2 de set. de 20173 min para ler

EP. #30 - Marina di Pietrasanta / Capezzano Pianore / Pianno de Mommio / Missarosa / Farneta / San M

►Apesar de ter dormido melhor essa noite, ainda acordei com dor. Ontem a noite acabei ligando para ortopedista, Dr Marcus de Carvalho que me respondeu prontamente e me passou a receita para continuar na estrada. Medicado virtualmente, peguei estrada logo cedo destino Lucca, e após uma pequena ascensão de 3 km com inclinação aproximada de 8% acabei chegando a Farneta. Havia uma indicação de um convento numa placa a esquerda, fora do roteiro, e para lá eu fui. Em pleno sábado, muita gente treinando de speed, tanto na serra quando nessas estradinhas pequenas que ligam as cidades. Na verdade convento estava fechado, ouvi algumas vozes do lado de dentro, provavelmente estavam almoçando, mas resolvi continuar viagem. No 39 km, 5 km depois alcancei Lucca. A entrada da cidade impressiona, entrei por um portal chamado Vittorio Emanuele, fiz uma curva à esquerda e tive a impressão de estar pedalando em cima da cidade pois via os carros passando embaixo do outro lado. Até então não havia percebido que estava pedalando em cima dos muros que contornam a cidade, praticamente uma área de lazer, onde há muitas bicicletas, caminhantes, crianças e corredores.

Lucca é uma cidade fascinante, toda murada, construção do séc. XVI. Estar aqui é muito especial e conseguir viver os ares de uma cidade medieval. Fiquei impressionado com os muros e descobri que dentro deles há calabouços, passagens, algumas transitáveis. De repente, caminhando por baixo,das gigantescas de Lucca, surge o inesperado a cada curva, um subterrâneo medieval em plena era moderna, incrível.

►Acima, a incrível Piazza dell'Anfiteatro, construída nas ruínas do antigo anfiteatro romano que por aqui um dia existiu. Lucca foi fundada pelos etruscos e se tornou uma colônia romana em II a.C. Hoje é umas das principais citta d'arte da Itália. Aliada a toda essa riqueza histórica e arquitetônica, Lucca é uma cidade moderna, cheia de lojas, restaurantes e museus.

►Pirei, na obscuridade dos corredores, você se deixa entrar pela mais fantástica apreensão do que virá depois dessa primeira curva. Estar em Lucca é amar e deixar-se amar.

►Das igrejas, a idolatria da palavra de Deus ditas pelo padre na missa na Basília de San Frediano a qual participei e a tentativa de compreensão do porquê de Deus me trazer e mexer tanto com meus sentimentos de uma forma aparentemente lúdica? Manipulação, odeio ela!

O amor é embasado pela alegria, pois o afeto que se apodera dos amantes, lhes dá força para construírem uma história de vida em comunhão, concedendo novos significados para a realidade a sua volta. Falo do amor diferente, a adesão incondicional ao existir, talvez a palavra de Deus, mas existe sim a afirmação da vida como ela é. É ambíguo falar assim, porque acho que possuo as duas coisas, mas foi justamente aqui que fui guiado, e me surge o sinal de que sem defensiva pode-se ser mais feliz. Muito mais do que uma mera aceitação da realidade que presencio, crítico e me faço perfeito maestro dos meus afazeres; o lógico se contrapões quando se fala de amor. Assim, dentro dos parâmetros impostos pela sociedade pela condição de viver de uma vida dedicada à família e à geração, quando o encontro do ser com o seu estado de espírito de amor se funde com tal realidade de caminho aparentemente pré-concebida, a lógica do pensamento e o afeto se derretem perante a situações completamente inusitadas que vivemos no nosso dia a dia. Ficamos flagelados dentro do eu e junto a razão e abertos demais a viver sem coletes e sem impedimentos. É muito ambíguo, não? A questão é como se libertar de tal amarras para que você possa ter uma vida psicologicamente saudável, livre de amarguras e impedimentos e satisfazer os desejos sociais que também são importantes para o crescimento individual? Não há fórmula! Viver o momento presente talvez lhe traga alguma graça de que a vida pode ser de uma maneira completamente diferente. São muitas contradições que me fazem nesse momento um ser completamente entregue aos ventos, ao sol, as forças que não posso controlar. Deixar-se viver assim é único, individual e completamente errado para os padrões sociais.