EP. #25 - Palestro / Robbio / Mortara / Garlasco / Carbonara al Ticino / Pavia / Vigalfo / Gerenzago
Atualizado: 1 de set. de 2022
►Uma noite muito mal dormida, por dois motivos, primeiro o calor aterrorizador desse país e depois o sino da igreja anunciando cada hora da madrugada; ouvi todas as horas e depois de sete badaladas eu me despertei. Comecei a arrumar as coisas, ia me despedir do Paulo mas quando desci ele já havia saído.
►Apesar do calor da madrugada o dia amanheceu meio nublado, então vi que iria sofrer menos. Mesmo assim, além dos alforjes, fui carregando uma mochila de roupas e outras coisas que não vou precisar mais, peso 4 kg. Pois é, como sempre digo me livrei de 4 kg de medo, mandei o medo pelos Correios tão logo cheguei na cidade de Mortara para a casa do Alessandro lá em Arezzo. Tão logo saí dos Correios, montei na bike e, nossa que alívio, como é bom ficar 4 kg mais leve, não somente pelo peso em si mas por conta dos parafusos de suporte desse bagageiro.
►Hoje, novamente sem rumo, sabia que iria passar por uma cidade grande, Pavia, mas essas estradas de ligações a cidades grandes são muito cheias de carros, quando surge uma vicinal, entro nela, mas tem vezes que não tem jeito, o único elo de ligação é realmente a estrada secundária. Na França estava mais fácil de pedalar nesse sentido, aqui parece que é tudo mais cheio, mais pessoas. Segundo o que pesquisei, a Itália tem a segunda maior população entre os principais países da Europa, perde para a Alemanha. A França é menos populosa e possui um território maior que o da Itália.
►Antes de chegar a Pavia, uns 5 km, fiz um caminho que saía da estrada e contornava um rio, ah paz, muito bom, um estradinha só pra mim, sem carros, beirando o rio onde havia muitos pontos para pescas e até mini praias.
Chegando em Pavia, aquele baque, carros, gente, mas fazer o que vamos enfrentar. Apesar da fome, já eram 13 hs, dei uma volta rápida pelo centro e comecei a procurar restaurantes, nada me atraiu. Saí do centro, passei novamente em cima da ponte atravessando para o outro lado da cidade e acabei almoçando numa cantina que me serviu um pene, um refrigerante e uma torta de espinafre por € 10,00. Depois do almoço voltei para o centro, Pavia é a cidade dos tijolinhos.
►Reparei que a ponte, a Catedral, muitas coisas são feitas com tijolos. Tem um aspecto medieval e as ruas são típicas italianas, estreitas e cercadas por edifícios de três andares. Muitas atrações na cidade, talvez desse para ficar aqui mais um dia, mas confesso que estou com um certo asco de cidade grande e monte de gente. Apesar disso, dei área, queria um lugar mais sossegado e sabia que uma hora ou outra eu iria encontrar.
O sol começou a apertar mais para o meio da tarde quando alcancei a cidade de Inverno, passei por um bonito castelo (foto abaixo) e quando cheguei na cidade de Termi di Miradolo.
►Tinha a indicação de um B&B no GPS mas quando tentei seguir essa direção fui para no meio do mato junto às plantações de uva. Resolvi então parar num bar, comprar uma água e perguntar onde poderia achar um B&B. O atendente me indicou um com aquela cordialidade italiana e só consegui achar a rua. Parei novamente em frente a uma casa e havia um senhor conversando, quer dizer gritando, com uma outra pessoa da casa do outro lado da rua. Imediatamente ele percebeu que eu era gringo e pediu para entrar na sua casa. Na hora que soube que era brasileiro, gritou para o amigo dele do outro lado da rua. "Un brasiliano!" Muito simpático, o Sr Ângelo me ofereceu água, perguntou se precisava de algo e me indicou um B&B no fim da rua, o mesmo que o cara do bar havia indicado. Foi pessoalmente comigo até lá falando sobre futebol, que o seu time era o Internazionale Milano, falou sem parar dos jogadores Roberto Carlos, Ronaldinho e Adriano. Pensei, que boa impressão que esses brasileiros deixaram por aqui, não? Quero deixar boas impressões também! Entretanto, tomara que ele não saiba que fim levou o Adriano.
Infelizmente não havia vaga no B&B que ele me levou! Nesse ponto, já desgastado pelo calor depois de ter rodado 96 km, perguntei onde teria algo em conta mais próximo. Vendo a minha aflição, o próprio dono do B&B começou a telefonar para hotéis na redondeza e achou um! No B&B iria pagar € 35,00 e ele achou um hotel por € 40,00. Achei razoável e decidi me encaminhar para o hotel, mas não sem antes o Sr Ângelo, sabendo de toda a história, ir até a casa dele pegar sua bike e me acompanhar até a porta do hotel através de uma trilha que passava em frente às plantações de uva. Puxa, quanta gentileza.
►Ao me despedir, pedi para tirar uma foto com ele, falei que tinha um blog e que escreveria sobre o nosso encontro. Antes de partir me disse em italiano: "Se posso essere d'aiuto, voglio farlo, se posso aiutarlo, lo farò!". Puxa, muito bacana a aparição desses anjos na nossa vida, não?
►Depois desse encontro, surgiram-me várias coisas na cabeça e lembrei de uma palestra que assisti do Leandro Karnal na Casa do Saber em São Paulo há três anos, antes de ele fazer sucesso. A reflexão é a seguinte: A vida depois do 40 anos passa rápido, depois do 50 anos, voa, veja só eu tenho 50 anos e fiz aniversário "ontem", janeiro! Então, o tempo é muito curto para nos dedicarmos a coisas e a pessoas medíocres, um emprego que não lhe trás felicidade, ou estar ao lado de pessoas que você não ama. A vida é muito curta para investirmos em pensamentos medíocres, ou coisas que não vão nos levar a lugar algum. Conheça a si mesmo, pois esse é o primeiro passo para você saber se o rumo que você segue é o correto. Tire a bunda da cadeira, saia dessa posição de conforto, faça chuva ou faça sol, frio ou calor, siga a estrada, siga o caminho sabendo que ele é só seu e você o constrói a todo momento. A partir do momento que tiver essa consciência, viverá uma vida melhor. "Grazie per avermi ispirato oggi, Angelo!"
Quer saber para onde vou amanhã? A noite conversamos, eu não sei, Deus sabe!