Amiens
►Rumo à terceira cidade do percurso. Acordei bem cedo, com a mesa do café da manhã já pronta pela Véronique. Ela fez questão de me dar um pão com geleia antes da minha partida, aceitei.
O dia começou bem gelado, passei antes na Marie (prefeitura) para mais um carimbo na credencial. Peguei estrada rumo a Amiens, sabia que ia ser longa. Os primeiros 30 km foram bem tranquilos, várias estradas entre fazendas e ninguém nas ruas. Deu para pensar bastante, olhando os gados e os inúmeros rodamoinhos do caminho. Por volta das 12 h o calor começou a pegar, já havia tomado quase toda a água. Mais 30 km e entrei numa estrada, mas haviam muitos caminhões e mesmo assim continuei. De uma hora para a outra perdi todas as marchas, os dois trocadores pararam, parece que foi combinado e me sacanearam me deixando na 28ª marcha. O trecho começou a ter subidas longas, não quis parar na estrada para ver o que estava acontecendo, fui sofrendo nessa marcha até Amiens, fazia tanta força na perna que a corrente fazia até barulho de tão esticada. Comecei a ficar nervoso e tentei me controlar. Com o calor infernizando a minha cabeça e já sem uma gota de água, cheguei a Amiens depois de 98 km rodados. Parei numa megastore de esportes, procurei um técnico, Adrien, e ele consertou para mim os trocadores. Enquanto ele trabalhava, eu contava da minha viagem e ficou fascinado. Não quis me cobrar nada pelo conserto. Dei a ele um postal do Giraventura, ficou feliz e me desejou boa sorte.
Ainda passado por conta de toda essa situação, parei no KFC para comer algo, fiquei por ali.
Hoje a minha hospedagem era na casa do Stéphan e Martine. Coloquei o endereço no GPS e comecei a pedalar. Depois de uns 3 km notei que o GPS me mandava na direção que vim, mas porquê? Parei de novo, vi um retorno só que mais um quilômetro adiante, fui até ele. Pedalei e retornei tudo, entrei em Amiens e foram mais 8 km para chegar na casa do casal. Cheguei à Amiens 112 km depois de Aire-sur-la-Lys.
Queria conhecer a famosa catedral, a casa de Julio Verne, mas sem condições. Bati na porta da residência e apareceu o Stéphan falando um francês rapidíssimo. Pedi um banho urgente! Voltei do banho, acalmei e começamos a conversar quando chegou a Martine. O Stéphan me levou ao jardim, uma casa grande. Conversamos bastante e fomos jantar. Prato de hoje, ratatouille, o mesmo de ontem, tudo bem, com fome pode repetir. Vinho, patê e pão italiano. Uma graça os dois, não sabiam o que fazer para me deixar à vontade. Insistiu em me emprestar um bicicleta mais simples para eu visitar os pontos turísticos, "ton vélo est très chère !".
Contei do meu projeto, falei que gostava de escrever e que faria agora no fim de noite, me deixaram a vontade e me mostraram o quarto que eu iria dormir. Mesma coisa ontem da Véronique, a contrapartida é o simples acolhimento. As pessoas veem também que você está sozinho, querem lhe dar o melhor.
Hoje durante o trajeto, tive muito tempo para pensar e repensar e essa relação de cordialidade realmente me toca. Quando passo por essas estradas rumo ao sul me vem pessoas muito especiais na minha cabeça. Todo esse apoio virtual dos amigos me dá gana para ir adiante. Ainda conto com você mas para por aqui hoje, preciso dormir, boa noite!
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