DIA #16: PUERTO BERTRAND, CHILE, ETAPA 2019, EXTREMOS DO MUNDO
Atualizado: 25 de ago. de 2021
►Acordei cedo, tomei café e fui conhecer as Capillas de Mármol, a atração turística de Puerto Tranquilo. Foram duas horas de passeio de barco pelo Lago General Carrera ou Lago Buenos Aires na parte Argentina. As Capillas são montanhas de mármore formadas por sedimentos a milhões de anos e cuidadosamente esculpidas pela água do lago. A água é composta de iridium, então sua cor torna-se um verde berilo. Hoje, o dia ajudou; apesar de ter chovido à noite, aos poucos as nuvens foram as dissipando e dando lugar a um lindo dia ensolarado. O passeio foi bacana, muito interessante essa formação rochosa. O que não me excita é cidade lotada de turistas e Puerto Tranquilo é uma delas; hotéis lotados, mercados com falta de produto. Após o passeio, já quase no fim da manhã, voltei para o hospedagem, despedi do Juan, o dono, e de um escocês todo atrapalhado até estava indo de bike para o Alasca. Saí, já era meio-dia, rumo sul, para a Carretera. A ideia era parar em algum camping pelo quilômetro 55, acampar e seguir viagem amanhã para Cochrane. Foi aí que chegou uma mensagem da Lyssandra sugerindo que ficasse em Puerto Bertrand; deixei em “stand-by”, queria ver como estaria a imprevisível Rota 7. De cara, uma subida interminável, mas sem dúvida um prêmio no seu final. Talvez hoje, tenha sido o dia mais lindo de todos até aqui. Fui beirando o lago o tempo todo, que constrastava com as montanhas cobertas de neve ao fundo. Tirei muitas fotos, mas sem dúvida, a foto não retrata dez por cento do que se vê. Nunca achei que o Chile fosse um país tão lindo. São belezas naturais, preservadas, por isso atrai muitos europeus e americanos. A Carretera continuava e hoje ela estava impossível. O rípio muda a todo momento. Hora pedra solta, hora pedra grudada, hora costela de Adão. Como é difícil pedalar na costela de Adão. Procura o tempo todo caminhos alternativos para escapar disso mas era muito difícil. Não desenvolvia na reta e para piorar, elas também existiam na subida. Com o solo completamente seco, chacoalhava tudo e às vezes tinha dúvida se o equipamento iria resistir. Parei num mirante para tirar uma foto e encontrei dois motociclistas do Paraná que também reclamaram muito das condições da estrada. Foi uma etapa muito dura evitando estava perto do meu destino final, lembrei do recado da Lyssandra. Fiquei tentado a continuar, pois nada chamou-me a atenção no lugar onde tinha proposto-me. Continuei, mas ainda meio desconfiado, com a bunda doendo de tanta batedeira. Puerto Bertrand estava a dezessete quilômetros dali. Pedalei mais um pouco e de repente a estrada ficou flat, como se fosse um sinal. Eu me empolguei e continuei. Apesar das subidas, foram pelo menos dez quilômetros de rípio liso, incrível, parecia asfalto. Mais a diante, entendi o porquê. Máquinas estavam fazendo manutenção com rolos compressores em vários pontos da estrada. Parei um dos funcionários da concessionária e ele, muito atencioso, informou-me que as condições estavam boas adiante. Não foi bem assim, as costelas de Adão apareceram novamente e foram me chacoalhando até Puerto Bertrand. Puerto Bertrand é uma vila à beira do Rio Baker. Uma vila simpática e sossegada, tudinho o que precisava. Eu me hospedei numa senhora que me ofereceu banho, cama e café por doze mil pesos. Vivemos numa sociedade, onde as pessoas querem falar, aparecer e expor opiniões. As pessoas estão esquecendo de ouvir as outras, e até, elas mesmas. O recado da Lyssandra mudou minha rota, mudou meu objetivo e no final ficou tudo muito bem. A gente nunca sabe se vai acertar ou errar, mas se deixarmos de lado essa cobrança exagerada pelo acerto, poderíamos nos deixar ouvir mais, sem medo de errar. Se eu errei o planejamento da minha rota? Não importa! O importante é que estou feliz onde estou, sem erros, sem acertos! Obrigado, Lyssandra!