ALDEIA TUKAY - DO OIAPOQUE AO CHUÍ DE BIKE
Atualizado: 27 de jul. de 2021
Meu dia começou cedo, 4h. A estratégia, fugir o máximo possível do Sol.
Titubeei na saída. Sabia que o desafio era grande, impossível não dar “aquele” medo. Com a bike montada, fui para o meio da rua e pude observar o céu avermelhando-se ao meu lado direito. Voltei rapidamente à bike, subi nela e parti rumo aldeia Tukai, 88 km de distância.
Pedalei poucos quilômetros quando encontrei mais três ciclistas pedalando no breu. Cumprimentaram-me, depois me alcançaram. Era um grupo de Oiapoque, duas garotas e um rapaz, todos jovens. Aos poucos fui aquecendo, quando nos dispersamos. Fui encontrá-los novamente mais adiante, sentados em um banco em frente à rodovia. Com apenas 20 km no odômetros, despedimos-nos e segui em frente.
Os primeiros 45 km foram de asfalto com sucessivas rampas. Quando o asfalto terminou, o Sol já tinha dado as caras. Forte, queimava a minha pele enquanto a poeira levantada pelos carros formava uma cortina à minha frente. Um caminhoneiro parou ao meu lado, perguntou se estava bem e me presenteou com uma garrafa de água e um pacote de biscoito.
Comecei a ter dificuldades, as rampas eram sequenciais e o Sol escaldante não davam trégua. Reparei que algumas nuvens no céu cobriam esporadicamente o Sol. Procurava sombras e quando as encontrava ficava debaixo delas aguardando as nuvens fazerem o seu papel. A essa altura, no km 50 já havia tomado seis litros de água.
Comecei a atravessar diversas aldeias indígenas. Em uma delas, aldeia Estrela, parei para descansar e fazer um lanche. Fui cordialmente atendido por uma índia que me forneceu água fresca. Pensei em parar, meu joelho direito começou a doer, troquei a joelheira de lugar para aliviar, melhorou um pouco; continuei.
Faltavam 20 km para a Aldeia Tukai quando parei uma aldeia antes, Samauma. Barracas em frente à aldeia vendiam alguns sucos. Resolvi experimentar um amarelo, a Índia falou-me que era de tucupi; horríveis, salgados. Paguei deixando a garrafa lá.
Alcancei a aldeia Tukai 6 km depois. Desgastado e muito cansado, fui direto ao posto de saúde perguntar sobre o cacique, que cochilava serenamente debaixo de uma mangueira. Pedi permissão para dormir aqui, mostrei-lhe meu joelho, falei que doía. Parecia que falava um dialeto de francês, mas me compreendeu. Mostrou-me um galpão e me deixou à vontade.
Saquei minha cozinha, preparei-me um macarrão e instalei minha rede entre duas colunas de madeira. Fui ao rio tomar um banho, voltei e cochilei. O cacique voltou ao alojamento e começou a conversar comigo em português.
Arrumei minhas coisas e deitei novamente. Agora, tentando me recuperar para estar de pé novamente amanhã às 4h da manhã.
Show! Valeu Nestor por este registro, não tinha informações deste trecho que ainda estou "devendo" para fechar o Amapá ! Do Jari ao Oiapoque, sei bem das dificuldades deste sobe e desce. Força!