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Foto do escritorNestor Freire

ARAGUAÍNA, TO - ETAPA 2020, DO OIAPOQUE AO CHUÍ DE BIKE

Atualizado: 11 de ago. de 2021


O desgaste físico e mental do dia anterior havia sido grande, mas consegui uma pousada razoável em Xambioá.


Era domingo ainda e saí para andar por uma pequena orla à beira do rio Araguaia. Entre muito lixo espalhado e carros com caixas de som em volume máximo, achei uma hamburgueria. Sentei, pedi um hambúrguer, um suco e voltei para o meu descanso, afinal o dia seguinte teria pelo menos 120 km de estrada pela frente.


Havia pelo menos três caminhos que me levariam a Araguaína e depois de conversar com os locais, optei pela mais longa em distância, pela TO-164, mas que cruzava povoados e vilas de Araguanã, Jaracatiá, Jacilândia e Carmolândia.

Estava cansado, mas disposto a continuar no dia seguinte. Dormi rápido, mas acordei subitamente e enjoado à meia-noite. Comecei a sentir ânsia, respirava fundo, tentava focar minha atenção na respiração, mas não teve jeito. Minutos depois levantei correndo e fui direto ao vaso, vomitar. Voltei mal para a cama, tomei o isotônico que usaria no dia seguinte, mas rolava suando de um lado para o outro e não conseguia pregar os olhos. Eram 3 h quando levantei novamente para mais uma lavada do fígado. Comecei a me preocupar com a desidratação, mas tentava me acalmar. Às 5h30, um novo enjoo e uma nova visita ao vaso. A essa altura já estava fraco e inclinado a procurar um PS sabe lá onde. Ainda assim acreditei que poderia melhorar, estava quente, tomei um banho e voltei pra cama; dormi a manhã toda. Às 10h saí finalmente do quarto e vi o café da manhã sendo recolhido. Consegui pegar um suco e meio às salsichas, pães e embutidos. Sinalizei à dona da pousada que não estava bem e que ficaria mais uma noite. Voltei para o quarto e dormi a tarde toda. Levantei às 19h, cansado, sem fome. Fui até o mercado, comprei um macarrão instantâneo e o preparei dentro do quarto. Achei que não conseguiria chegar a Araguaína, mas que se acordasse bem no dia seguinte, conseguiria alcançar Araguanã, a 26 km de Xambioá.

Dormi bem à noite e levantei mais disposto no dia seguinte. Tomei um café na pousada e parti para Araguanã por uma bonita estrada. Depois de um encontro inusitado com um tamanduá, cheguei 9 h em Araguanã, parei em uma pamonharia e decidi permanecer na cidade. Não iria forçar a barra devido o ocorrido na noite anterior.


Procurei o único hotel da cidade e lá me hospedei. Incrivelmente, a cidade era menor que Xambioá, precária em tudo, farmácias, mercados e restaurantes.

Preocupado com a comida, fui visitar os dois únicos restaurantes da cidade. No primeiro, uma imundície, paredes sujas e uma criança aparentemente doente dormia em um colchão velho no meio do salão. No outro, um pouco melhor, uma única opção de prato: arroz, feijão e carne de sol; fiquei nesse. Ao trazerem-me a carne, essa estava preta e seca. Deixei-a de lado, mas permaneci no arroz e feijão.


Com pouca proteína na dieta, resolvi ir a um mercado atrás de uma lata de atum e um isotônico, mas pasmem, produtos em falta. Voltei ao hotel com mais um pacote de macarrão instantâneo e o cozinhei a noite antes de dormir. Liguei para minha médica em São Paulo, relatei o ocorrido e ela me receitou tomar um probiótico para restauração da flora intestinal e sugeriu que tomasse cuidado com a água que tomava. Fui à farmácia, pedi o probiótico encapsulado, mas para a minha surpresa, o mesmo não havia na prateleira.

Ainda assim, havia combinado com o dono da pousada que partiria bem cedo em direção a Araguaína e solicitei que me abrisse a porta às 5h30. Estava disposto a deixar Araguanã o mais breve possível.

Choveu forte durante a noite e depois de dormir profundamente, acordei de um pesadelo. Eram 2h quando voltei a me sentir estranho. Voltei ao banheiro repleto de baratas, dessa vez não para vomitar, mas com um tremenda diarreia. Passei a madrugada mal, com dor de barriga, fraco e quando levantei às 5h30, mal conseguia sair da cama.


Já disposto a apertar o botão de emergência do SPOT e desaparecer da cidade o mais rápido possível, fui até a recepção e vi o dono da pousada balançando tranquilamente em uma cadeira de balanço.

- O que você tem meu filho?

- Não estou bem do estômago, não vou conseguir pedalar até Araguaína. Conhece alguma condução que possa levar a mim e a bike?

- Meu genro trabalha em um micro-ônibus, vou ligar para ele.

Eram 5h45 e minutos após a ligação, veio a notícia: estão passando aqui para te buscar.

Corri para o quarto, fui amontoando tudo rapidamente para dentro dos alforjes e saí correndo pra fora da pousada para não perder a oportunidade.

A condução chegou! Ao abrir o porta-malas do microônibus, minha dúvida era se a bike caberia dentro. Coube!

Subi no ônibus e rumei a Araguaína, onde cheguei 1 hora depois.

As descer na rodoviária, fui abordado por um homem que me levou a um hotel de R$ 30,00. Abri a porta do quarto, um cheiro de esgoto incrível. Saí quase vomitando, mas agradeci; abri o app de hotéis e procurei um hotel de melhor qualidade. Achei!

Hoje, descanso e me recupero em Araguaína, Tocantins.




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5 Comments


Marcelo Campos
Oct 04, 2020

São esses desafios que farão suas histórias diferenciadas!

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Nestor Freire
Nestor Freire
Oct 01, 2020

Que honra ser comparado ao Neil Peart

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ROBERTO OTA
Oct 01, 2020

Que perrengue! Sua experiência me lembrou trechos do livro O Ciclista Mascarado onde Neil Pert narra sua aventura por paises da Africa Ocidental, ainda no século 20. Se cuida, seja gentil consigo mesmo e descanse o tempo que for necessário para garantir a saude fisica e mental.

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Emerson Dornellas
Oct 01, 2020

Força Guerreiro!!! Parte difícil está esta do Tocantins... Mas tende a melhorar a medida que vá descendo... Lembre se é o Estado mais novo do país! Melhoras!

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Eliane Ushijima
Sep 30, 2020

Nossa Ju!!! Que difícil. Espero que você esteja melhor. Passar mal assim é horrível porque ninguém pode ajudar. De agora em diante, acredito, você passará por cidades com mais infra estrutura. E o calor vai diminuir também!!!! Boa viagem e se cuide!!!❤️

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