MENOS EXPECTATIVAS, MENOS ARREPENDIMENTOS
Atualizado: 26 de jul. de 2021
Hoje, quando saí cedo de Bom Jesus do Amparo tinha um destino certo, Catas Altas, 55 km adiante.
Rota bem estudada no dia anterior e GPS de prontidão foram o básico para enfrentar o calor das Minas Gerais em pleno verão de janeiro.
A pedalada desenvolveu bem no começo, passando por um trecho duplicado da BR 381 sem muitos problemas e entrando no trevo que me levaria a Barão de Cocais. Em uma cafeteria à beira de estrada cheia de prostitutas, parei para reabastecimento e continuei viagem. Alcancei Barão de Cocais ainda cedo, quando o relógio batia 11 h. Nicolas, o cicloturista inglês que me acompanhava, estava cansado pois o sol fritava seus miolos. Assim, resolvi ir direto a Catas Altas.
No meio do caminho meu GPS apagou. Sem rota definida, continuei por uma estrada de terra que cortava fazendas, na confiança de que desbravaria o caminho que chegaria a Catas Altas.
A água começou a terminar quando entramos em um trecho mais deserto, pedalando por montanhas, até finalmente perceber que, de fato, não estava indo a Catas Altas. Tentei ligar meu GPS novamente, nada! Começava a ficar preocupado não por mim, mas pelo Nicolas. Com o celular quase sem bateria, segui meu instinto e continuei. Já arrependido de ter tomado a decisão errada por não carregar um mapa de papel (básico para alguém que tem um mínimo de experiência em viagens de bike), senti o tamanho da responsabilidade ao perceber que Nicolas estava no osso! Proporcionar a mim um perrengue era uma coisa, e ele outra.
Incomodado pela decisão do caminho que havia tomado, algumas centenas de metros adiante, dei de cara com um conjunto de pedras. Era o Aqueduto do Bicame de Pedra construído por escravos em 1792, para captar água da Serra do Caraça até Brumado, onde o ouro era extraído e lavado. Ao lado do aqueduto, uma fonte de água, geladinha e pura.
Senti o presente real e com uma vista deslumbrante à extraordinária Serra do Caraça. Via a satisfação do Nicolas de estar ali, visitando um dos marcos mais lindos que o Caminho dos Diamantes podia proporcionar.
Foi ali que me perguntei por que sentimos tanta culpa por caminhos errados que frequentemente tomamos. Por que achei que o caminho que sonhei viver anteriormente pudesse ser melhor? Temos esse hábito, valorizar o ontem e o amanhã em detrimento ao hoje. Tomar decisões baseadas em fatos reais talvez fosse melhor do que viver expectativas ou de valorizar momentos que não existem.
No final, aprendi com a experiência, respirava felicidade.
Uma hora depois, alcancei Catas Altas, sadio de corpo e alma. Dessa vez, pronto para mais uma jornada com menos expectativas e arrependimentos.
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