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Foto do escritorNestor Freire

REENCONTROS - ESTRADA REAL

Atualizado: 23 de jul. de 2021


Cheguei a Diamantina, MG, marco zero da Estrada Real! Há 8 anos havia pisado por essas terras.


Tinha 46 anos naquela época, não sabia muito o que fazia aqui, mas queria pedalar até Paraty. Havia passado 6 meses que fizera uma cirurgia no joelho e essa tal dessa Estrada Real foi um chamado para mim.


Naquela época, resolvi ter um blog simples, chamei-o de Giraventura. Seria um diário, uma narrativa em primeira pessoa sobre essa experiência real, afinal descobrira que escrever me fazia bem. Imaginei que podia relatar a experiência dessa cicloviagem e transcrevê-la em palavras. Talvez ninguém lesse, não importava, queria escrever para mim como um registro dos acontecimentos da maior aventura da minha vida até então.


Saí de Diamantina no final de dezembro de 2012 com destino a Paraty, RJ, aproximadamente 1.200 km de estrada. Foi a primeira vez que deixei meus filhos pra viajar sozinho, na época com 12 e 14 anos de idade. Foram 16 dias muito especiais que passei comigo mesmo, dando o pontapé inicial para começar a enxergar a vida de uma outra maneira.


Jamais imaginaria o impacto dessa despretensiosa jornada nas 8 etapas do projeto que se sucederam.


Sabemos que esse tal de tempo é um mestre caprichoso, com lições repentinas que nos sufocam ou que depositam lentamente diante da ansiedade e da nossa sede por respostas imediatas. Cruel, mas por isso quem tem o privilégio de viver muito tempo, aprende a olhar com serenidade esse furacão de encontros da vida e só então passa a compreendê-lo. O fato é que brigamos constantemente com ele, mas que se diga a verdade, somos seres insignificantes.


As memórias deixadas de lado em função do tempo são naturalmente desprezadas uma vez que essas vão escurecendo. Mas a vida é tão incrível que o passado nunca se apaga por completo. É aí que somos pegos de calça curta e surge um reencontro. Algo casual? Sabe aquelas experiências que ficaram pra trás? Encontros passados, amores platônicos, coisas que o tempo se deu o luxo de tampar vagarosamente, reaparecem à nossa frente com outra perspectiva.


Hoje isso aconteceu comigo. Andar pelo calçamento de pedra de Diamantina me fez recordar um passado de felicidade, dores e mudanças. Parei em frente Catedral Metropolitana de Santo Antônio, sentei na sarjeta e depois de cinco minutos ouvindo os passos das pessoas andando sobre as pedras capistranas, comecei a chorar. Parecia que lia um livro antigo, desses empoeirados que mofam na estante e quando nos permitimos relê-lo, as sensações são outras.


É preciso ter coragem para o reencontro. Enfrentar novamente as alegrias, as paixões, dores e angústias, tudo misturado em um só pote não é pra qualquer um. Aí fica a pergunta: vai encarar meu velho?


Reencontrei a Estrada Real.

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