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Foto do escritorNestor Freire

XAMBIOÁ, TO, DIVISA PARÁ E TOCANTINS - DO OIAPOQUE AO CHUÍ DE BIKE

Atualizado: 11 de ago. de 2021


Resolvi acordar muito cedo, 4h30 estava de pé. Depois de uma prosa com o dono da pousada, parti meia hora antes do Sol nascer.

Acompanhei da estrada o dia clarear aos poucos, até ele aparecer. O Sol, tão temido por mim, proporcionando-me fugas incríveis e horários de pedal indesejados, nasceu. Como um belo tapa na cara, apareceu no horizonte leste, esplendoroso, lindo! Na estrada, só eu! Encostei a bike no meio da pista, sentei na sarjeta e esperei ele me dar sua luz de bom dia. Para que brigas? Assim, o compreensível temor foi fugindo da minha mente e dando lugar à aceitação. Fiquei sem jeito, senti-me culpado, mas dez minutos depois, ele me deu alegremente o passaporte para continuar a minha viagem rumo ao sul.


Dia pesado, 105 km até São Geraldo do Araguaia. A estrada sinuosa mostrava sua cara, pouca civilização. No km 20 parei em uma vendinha, tomei um suco e o aviso da atendente: de agora em diante, não há muita coisa pelo caminho. Ela estava certa, o jeito era pedalar, só! Passei por grandes fazendas e pelo menos três tribos indígenas, todas de portões fechados.


Desenvolvia bem até 20 km do fim. Já estafado, a sequência de tobogãs na altura da Serra das Andorinhas foi doída, mas tinha certeza que chegaria bem ao destino proposto. O odômetro marcava 100 km quando comecei a entrar na cidade de São Geraldo do Araguaia, ainda no Pará. De cima do

morro, conseguia avistar o Rio Araguaia; do outro lado, o estado de Tocantins.


Aos poucos, fui me aproximando da entrada da balsa e quando percebi, lá estava ela, esperando-me. Não fora o planejado, mas era hora de colocar um ponto final aos incríveis encontros que a expedição me proporcionou no estado do Pará.


Paguei R$ 4,50 para entrar na embarcação. Enquanto segurava o choro ao perceber a balsa partindo rio adentro, várias pessoas se aproximaram de mim para ver a bike, saber de onde vinha, aonde ia e os porquês! Confesso que mal conseguia responder a todos! A garganta engasgada tentava explicar um pouco da rota e do desafio, mas foi difícil.


Fui o primeiro a descer da balsa, como se a terra firme fosse dar um fim àquele mal-estar. Voltei a pedalar, mas em círculos, não tinha destino. A pequena cidade de Xambioá, às margens do rio Araguaia, era uma novidade para mim.

Pedalei um pouco pela BR-153, a rodovia que pedalarei amanhã, dei mais voltas e terminei em um paróquia; nada pelos lados. Desci, avistei um alguém que me deu uma indicação. Fui até a pousada sugerida, tomei um banho, saí pra almoçar, voltei e dormi. Queria descansar!

Fim de tarde saí novamente, desta vez, para contemplar o pôr do sol da orla de Xambioá. Não lembrava a última vez que tivera a oportunidade de assistir ao nascer e ao pôr do sol no mesmo dia. Hoje, vi uma outra face do Sol, até então aterrorizador de semanas atrás.

O fato é que criamos monstros dentro de nós e os alimentamos sem perceber. Quando as coisas não são como gostaríamos que fossem, culpamos tudo, exceto o nosso olhar, ou nossa percepção.

Hoje, enfrentar quase horas de calor não foi fácil, mas o “sofrimento” tornou-se parte de mim, parte da estrada e parte da vida que segue em direção ao sul do país.

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2 Comments


Emerson Dornellas
Sep 28, 2020

E Sol tá alto aqui... Imagina aí

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Emerson Dornellas
Sep 28, 2020

Maravilha de relato, Nestor ! A linda imagem impactante reverberou a "troca" de significados...

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